Há muitos anos no quarto ano da faculdade no ramo educacional no seminário interdisciplinar abordámos os temas da educação pelos valores e a teoria do desenvolvimento moral, este segundo tema na perspectiva de Lawrence Kohlberg, “estudo do julgamento moral a partir da transgressão”.
Este pensador influenciado por Piaget criou uma estrutura de desenvolvimento moral organizada em três grupos e seis níveis com o objectivo de facilitar a análise comportamental dos indivíduos enquanto membros de uma sociedade.
Grosso modo temos:
1º Grupo. Pré convencional:
1º Estágio: Como posso evitar a punição.
Orientação “punição obediência”. Neste estágio, a moralidade de um acto é definida em termos de suas consequências físicas para o agente. Se a acção é punida, está moralmente errada; se não for punida, está moralmente correcta. "A ordem sócio-moral é definida em termos de status de poder e de possessões ao invés de o ser em termos de igualdade e reciprocidade". Assim, frequentemente neste estágio se responde que o marido estava certo em roubar o remédio caso não tenha sido apanhado em flagrante e preso.
2º Estágio: O que ganho eu com isso?
Orientação “auto interesse ou hedonismo instrumental”.
A acção moralmente correcta é definida em termos do prazer ou da satisfação das necessidades da pessoa. A igualdade e a reciprocidade emergem como "olho por olho, dente por dente". Os sujeitos neste estágio podem dizer que um marido deve roubar para salvar a vida da mulher porque ele precisa dela para cozinhar, ou porque ele poderia vir a precisar que ela salvasse a vida dele, por exemplo.
2º Grupo. Convencional:
3º Estágio: bom moço, boa moça.
Orientação segundo “acordo interpessoal e conformidade”.
O comportamento moralmente certo é o que ganha a aprovação de outros. Trata-se da moralidade de conformismo a estereótipos, por exemplo: "É papel de todo bom marido salvar a vida da sua mulher". Há uma compreensão da regra "Faça aos outros aquilo que você gostaria que lhe fizessem", mas há dificuldade de uma pessoa se imaginar em dois papéis diferentes. Neste estágio, surge a concepção de equidade através da qual há a concordância de que é justo dar mais a uma pessoa mais desamparada.
4º Estágio: Moral, lei e ordem.
Orientação “manutenção da ordem social e da autoridade”.
Há grande respeito pela autoridade, por regras fixas e pela manutenção da ordem social. Deve-se cumprir o dever. A justiça não é mais uma questão de relações entre indivíduos, mas entre o indivíduo e o sistema. A justiça tem a ver com a ordem social estabelecida e não é uma questão de escolha pessoal moral. O estágio 4 é o mais frequente entre adultos. Neste estágio, mesmo quando respondem que o marido deve roubar o remédio, as pessoas enfatizam o carácter de excepção dessa medida e a importância de se respeitar a lei, para que a sociedade não se torne um caos.
3º Grupo: Pós convencional:
5º Estágio: Orientação “ contracto social”.
Este é o primeiro estágio que pertence ao nível pós-convencional. As leis não são mais consideradas válidas pelo mero fato de serem leis. O indivíduo admite que as leis ou costumes morais podem ser injustos e devem ser mudados. A mudança é buscada através dos canais legais e contratos democráticos. Neste estágio, os sujeitos geralmente trazem a ideia de que deveria haver uma lei proibindo o abuso do farmacêutico.
6º Estágio: Orientação “ princípios éticos sociais:
Neste estágio, o pensamento pós-convencional atinge seu nível mais alto. O indivíduo reconhece os princípios morais universais da consciência individual e age de acordo com eles. Se as leis injustas não puderem ser modificadas pelos canais democráticos, o indivíduo ainda resiste a elas. É a moralidade da desobediência civil, dos mártires e dos revolucionários, e de todos aqueles que permanecem fiéis a seus princípios ao invés de se conformarem com o poder estabelecido e com a autoridade.
O estudo do tema era feito pela análise de dilemas morais, um dos quais referido acima. Se bem me lembro trata-se de uma situação de um marido desempregado e cujo cônjuge enfrenta a morte caso não tome o remédio que o farmacêutico se recusa a fornecer a menos que seja imediatamente pago. O que deve ele fazer?
Agora, o passatempo para férias: Vamos situar os nossos políticos nestes níveis.