quarta-feira, 31 de março de 2010

Pérola 2

Há quem diga que um professor só ensina se os alunos aprendem.
Neste e em muitos outros enunciados de cariz pseudo pedagógico a palavra aluno tem de ser substituída pelo termo estudante.

Praça de Portugal em Setúbal


terça-feira, 30 de março de 2010

Pérola 1

Há quem diga que um aluno assíduo não pode ter zero, tem que ter pelo menos um valor na classificação do período. Quem diz isto parte do pressuposto que a assiduidade é sempre um bem.
Mas se o aluno se limita a estar presente e a conversar perturbando os outros a sua assiduidade passa a ser um elemento negativo no desenvolvimento das actividades na sala de aula.
Então também acho que o aluno não deve ter zero deve antes ter menos um ou menos dois….
Note-se que se só for um aluno a perturbar é fácil mandá-lo para o GID, mas se forem muitos este gabinete não tem capacidade de resposta.

sábado, 27 de março de 2010

O Paulinha, no Moinho de Maré da mourisca em Setúbal


Indisciplina, GOD, GID, etc...

Na tentativa de lidar com a indisciplina criaram-se algumas estruturas nas escolas, GOD (Gabinete de Orientação Disciplinar) e GID (Gabinete de Intervenção Disciplinar), na minha escola, são algumas das designações.
Quando a situação na sala de aula azeda, o infractor deve ser para lá encaminhado para que se possa trabalhar na aula.
Pretendem as hierarquias que o professor que envia o aluno lhe prescreva um trabalho para este efectuar no GID.
Este é na realidade um entrave à utilização deste recurso pois obriga o professor centrar-se na tarefa que vai atribuir ao aluno infractor em detrimento do resto da turma. Note-se que o facto de aquele aluno ser expulso significa apenas que deu mais nas vistas e não que era o único a portar-se mal.
Outro problema prende-se com o facto de esta estrutura não ter capacidade para lidar com muitos alunos e quando nenhum sobressai é quase impossível para o professor escolher um para expulsar servindo de exemplo.
Mas o maior entrave à eficácia da luta com a indisciplina neste âmbito prende-se com a afirmação de que o GID deve constituir a excepção e não deve ser banalizado.
Se um aluno está insuportável vai para o GID, se dez alunos estiverem insuportáveis vai-se banalizar o GID.
O que está banalizado nestes tempos são os comportamentos inadequados que a ele conduzem e é para tentar acabar com isso que se criaram estas estruturas.

sábado, 20 de março de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

Pedagogia diferenciada e turmas de nível.

Então vamos supor que um professor tem 4 turmas razoavelmente heterogéneas com 3 casos diferentes em cada turma a necessitarem de diferenciação pedagógica. Será necessário produzir para cada turma a duas aulas por semana 16 propostas de trabalho diferentes o que não me parece de todo exequível.
Para que se possa aplicar pedagogia diferenciada onde ela seja necessária e indicada será necessário aliviar nalgum lado e parece-me linear que não podemos instituir como regra o que deve ser pontual visto que trabalhamos com turmas e não individualmente.
Defendo que dentro do possível devem ser constituídas turmas de nível diminuindo a multiplicação de esforços.
Foi-me dito que esta estratégia tinha um efeito secundário, o de influenciar negativamente as aprendizagens por diminuir as expectativas dos professores relativamente às turmas que à partida se considerariam mais fracas.
Parece-me uma fraca opinião acerca dos professores. Quando se constituem turmas de nível com base no prévio conhecimento dos alunos não se estão a formar falsas expectativas, está-se apenas a lidar com a realidade para melhor poder ultrapassar as dificuldades.

Carvalhal, Fundão


terça-feira, 16 de março de 2010

Os culpados

Há quatro anos as chefias do M.E. faziam reuniões com os elementos dos Conselhos Executivos das escolas para darem a conhecer o Admirável Mundo Novo que traziam para a área da educação.
O presidente do Conselho Executivo da minha escola tentava, nas sessões do Conselho Pedagógico, fazer um relato o mais fiel possível das boas novas que iriam revolucionar a educação.
m.l.r. tinha anunciado com um ar condescendente, “ não procuramos culpados mas sim soluções”, sossegando assim a classe docente. Perdão! Eu disse sossegando? Bem devia dizer ludibriando a classe docente que por sinal até se presta a isso.
Não foram os professores nas escolas que decidiram extinguir o antigo ensino técnico que deveria ter evoluído no tempo de modo a fornecer alternativas.
Não foram os professores que substituíram a palmada pedagógica pelo psicólogo ou pelo psiquiatra, paralisando a acção educativa de quem tem poder para ser educador: O encarregado de educação.
Se os culpados pela actual situação do sistema educativo fossem os professores, já teria começado a caça às bruxas e a pandilha ministerial não se ficaria por, há maus resultados? É preciso mais formação para os professores! É preciso avaliar os professores! Etc.
Não. Os culpados estão lá em cima e não querem assumir os erros.

Iate


Inovação ou conformismo?

No meu tempo era…..
Esqueça o passado. Já não é assim, a sociedade mudou e a escola também. Temos novos problemas e precisamos de novas estratégias, de inovar.
Curiosamente na frase anterior o verdadeiro apelo que é feito não é à mudança e à inovação mas sim ao conformismo e ao imobilismo.
A escola e a sociedade mudaram, é uma realidade, mas não do mesmo tipo de “ o clima está a mudar”. Nesta última frase sugere-se inevitabilidade e a nossa incapacidade de contrariar essas mudanças devendo adaptarmo-nos às novas condições.
No que respeita às mudanças sociais sabemos que muitas são consequência de tomadas de decisão erradas por pessoas bem identificadas.
Inovar, nos tempos que correm, não é utilizar computadores nas aulas, é corrigir o mal que essas decisões criaram e se possível castigar os culpados.
É nos pedido que inovemos e arranjemos novas estratégias enquadrados num contexto absolutamente absurdo que, este sim, tem de ser mudado. Não nos iludemos, há coisas que têm de voltar atrás.

domingo, 14 de março de 2010

Cerejeiras em flor IV


Cerejeiras em flor III


Cerejeiras em flor II


Cerejeiras em flor na Beira Baixa, Fundão.


Competências vs conteúdos.

Sento-me, ligo o computador e após alguns minutos navego no ciberespaço, consulto a wikipédia, faço buscas por nome no Google.
Esta facilidade e rapidez na obtenção de informação factual tem levado á progressiva desvalorização dos conteúdos nas actividades escolares valorizando os processos e as apresentações em suporte digital.
A aquisição de conhecimentos, a memorização e mesmo os exercícios repetitivos para consolidação de processos tornaram-se um anátema a menos que “contextualizados.
O livro perde importância e vai sendo substituído pela internet e entoam-se loas às competências.
É um caminho errado, pois a maior parte da informação que circula no ciberespaço é superficial ou errada e não validada.
Esta possibilidade de obter quantidades massivas de informação de um modo quase imediato faz com que seja uma prioridade da escola, ou melhor, a prioridade da escola fornecer aos indivíduos os meios para separar o trigo do joio, e para isso é absolutamente necessário voltar a dar ênfase aos conteúdos devidamente validados e bem assimilados pois esse é o único modo de escapar ao lixo que a informação “on line” nos fornece.

Quinta em Setúbal, onde agora é o Colégio do Centeio.


sexta-feira, 12 de março de 2010

A palmada pedagógica.

Tenho vários passatempos sendo um deles a observação da natureza. Há uns tempos observava, no estuário do Sado, as andorinhas do mar, Sterna albifrons, e as suas crias.
Trata-se de uma das espécies que nidificam no solo e confiam na camuflagem para enganar os predadores.
Para os ovos camuflagem e para as crias camuflagem e imobilidade absoluta, a escassos metros a cria parece uma pequena pedra como muitas outras.
Tinha localizado um casal e três crias, três pequenos seixos apesar de estar a utilizar binóculos. Os pais levantaram voo e foram à procura de alimento deixando os petizes a fazer o seu papel. Mas…., a juventude! As crias começam a crescer e precisam de aprender, explorar e preparar-se para a vida. Então os três seixos mexeram-se, levantaram-se e começaram a estudar o meio envolvente.
Em pouco tempo um dos progenitores regressou com uma atitude preocupada e com algumas bicadas pedagógicas remeteu os petizes à imobilidade. Não. Ainda não tinha chegado o dia em que podiam estudar lições mais avançadas.
A palmada pedagógica está presente no comportamento de todas as espécies cujo desenvolvimento exige aprendizagem.

Cria de andorinha do mar.


Cria de andorinha do mar.


Ninho de andorinha do mar.


Pedagogia Diferenciada.

Hoje na minha escola realizou-se uma sessão de trabalho sobre diferenciação pedagógica. Finalmente ouvi o que já tinha retirado dos escritos que já li acerca do assunto.
À questão relativa às condições de aplicação da pedagogia diferenciada em sala de aula: É para alunos que observam os comportamentos adequados na sala de aula e têm dificuldades ou serve para resolver problemas disciplinares?
A resposta da formadora: Tudo o que aqui vamos discutir assenta no pressuposto de que os alunos destinatários querem trabalhar.

quinta-feira, 11 de março de 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010

Bullying

Um rapaz vítima de bullying na escola atira-se ao rio. Pelas notícias que leio nos jornais fico a saber que a direcção da escola ainda não estabeleceu qualquer contacto com os pais, o que a confirmar-se parece estranho. Ficamos ainda a saber que a família pretende processar a escola porque esta devia prevenir. Finalmente a ministra de educação lembra que em 2009 foi criado o Gabinete de Segurança Escolar que coordena 585 vigilantes que estão diariamente na escola.
Há em Portugal à volta de mil escolas de segundo e terceiro ciclos e secundárias que funcionam das oito e trinta às dezoito e trinta, pelo que os elementos deste gabinete poderão estar no máximo em cada escola 50% do período de funcionamento e apenas em parte de cada escola.
O ministério diminui o número de funcionários nas escolas criando rácios funcionários/nº de alunos e substituindo ainda funcionários que a direcção de cada escola poderia gerir por serviços fornecidos por empresas, nomeadamente refeitórios e limpeza dos espaços escolares.
Assim a vigilância dos espaços escolares diminui de dia para dia, e só esta pode prevenir eficazmente a violência nas escolas. Temo que este seja apenas o primeiro caso.

Pateo alfacinha.


segunda-feira, 8 de março de 2010

Objectivos?

Na pseudo avaliação de desempenho de professores parida durante o triste consulado de m.l.r., não, não é engano, é mesmo com letra pequena bem á medida intelectual de tal personagem, pede-se aos professores o estabelecimento de objectivos numéricos relativos ao sucesso dos seus alunos, leia-se, percentagem de transição de ano e não se caia no erro de pensar em aprendizagens.
Ora o sucesso dos alunos deve ser um objectivo destes e não do professor. Para este, o sucesso dos alunos é um desejo que se estende a todos e não apenas a alguns. O papel do professor é dar aos alunos os meios e o apoio necessários para que estes com o seu esforço atinjam o sucesso, mas não pode nem consegue em qualquer caso substituir o esforço do aluno.
Se as aprendizagens e o sucesso não são um objectivo do aluno e sim do professor……….é porque algo está mal no Reino da Dinamarca.

O Praia de Sines


sábado, 6 de março de 2010

Autoridade, Poder, Responsabilidade.

Não podemos confundir autoridade, poder, nem finalmente responsabilidade material. Torna-se urgente definir e afirmar o que é que compete ao professor e o que é que está fora do seu alcance e desfazer confusões que instaladas nas nossas cabeças nos levam a encolher perante certas afirmações.
Talvez o mais urgente seja começar por afirmar que não existe um processo de ensino/aprendizagem, esta designação não passa de uma facilidade semântica.
O que há são dois processos distintos, o de ensino e o de aprendizagem, cujas responsabilidades cabem a diferentes actores.

Proponho-a para nova ME.


quinta-feira, 4 de março de 2010

Por falar em 2+2=5...

O texto seguinte encontra-se disponivel em debatereducacao.pt, utilizador siul50, desde Novembro de 2006.
O despacho referido ainda não tinha número quando se deu a reunião de grupo, de onde saíu excerto de acta, trata-se do Despacho nº 13599/2006 de 28 de Junho de 2006.


O insucesso escolar é um problema de aprendizagem, não de ensino.

Ponto 2:Relativamente ao nº3 do art. 10º do despacho entregue no Conselho Pedagógico de sete de Julho de 2006, com a seguinte redacção:
“ 3. Os docentes titulares da turma, disciplina e de educação especial que integram a equipa pedagógica são responsáveis pela evolução das aprendizagens dos alunos, sob a supervisão do director de turma.”.
Os docentes do 1º grupo alertam para a incongruência deste enunciado fazendo notar que no processo ensino aprendizagem existem duas componentes básicas com diferentes responsáveis.
À escola e aos professores cabe a organização do ensino nas suas diferentes vertentes nomeadamente, planificação, leccionação, fiscalização, avaliação e validação com a devida comunicação dos resultados.
Neste processo cabe-lhes a motivação didáctica tentando na medida das limitações ligar as matérias à realidade para dar sentido ao que se pretende que os alunos aprendam e criando dentro do possível situações que constituam desafios adequados para os estudantes.
Cabe ainda aos professores a exigência do cumprimento das regras e de comportamentos adequados.
Dos estudantes espera-se que mantenham e cultivem comportamentos a atitudes adequados ao seu nível etário e consentâneos com o grau de ensino que frequentam, em particular, a participação nas aulas, a tomada de atenção o cumprimento das recomendações dos professores e a execução das tarefas que lhes são propostas dentro ou fora da sala de aula, de modo a cumprirem, com empenho e perseverança, a parte que lhes cabe neste processo.
Acresce a estes dois aspectos uma vertente social que transcende a escola, apesar dos esforços desenvolvidos, e que carece de medidas apropriadas.
É importante que haja uma valorização social do papel da escola e dos saberes.
Um método de ensino para produzir aprendizagens e desenvolvimento de competências tem de integrar harmoniosamente estes três factores, não podendo caber a totalidade da responsabilidade do sucesso apenas a um dos intervenientes.
Nada mais havendo a tratar, deu-se a reunião por encerrada, da qual foi lavrada esta acta.
Este foi o texto possível a nível de grupo conciliando a forma acerca de um assunto acerca do qual todos estiveram de acordo quanto ao conteúdo e elaborado para uma acta e para apreciação nos grupos disciplinares, com vista a uma tomada de posição acerca de um erro consignado em legislação.
Entendo no entanto que é necessário desenvolver o tema e aborda-lo de um modo mais cru.
O enunciado do artigo em questão atribui a responsabilidade pelas aprendizagens dos alunos aos professores. E são-no realmente?
É responsável por algo ou alguém, aquele que responde por…
Mas só é responsável quem detém poder e capacidade de acção sobre o objecto da responsabilidade.
È um médico responsável pela cura ou não cura do doente?
Ao médico cabem o diagnóstico e a prescrição. Ao paciente, para se curar, cabe a execução da prescrição. O médico não tem poder sobre o paciente mas este está motivado para o cumprimento das suas indicações.
Não passa pela cabeça de ninguém exigir responsabilidade ao médico no caso de não cumprimento das suas indicações.
No entanto é isso que se passa no ensino.
O texto do artigo em questão pressupõe a existência de um método qualquer de ensino que produz as aprendizagens pretendidas nos alunos independentemente da vontade destes e dos seus comportamentos. Assim, se o aluno não aprende verificou-se um erro ou uma omissão qualquer a nível de ensino.
O ensino é na escola um processo destinado a indivíduos mas organizado de um modo colectivo.
A aprendizagem é um processo mental e como tal individual e intransmissível mesmo que os processos de trabalho sejam colectivos.

MATEMÁTICA B 10º ano Porto Editora; NEVES, Maria Augusta; Guerreiro, Luís; Pereira, Albino.
Pág. 8 O primeiro objectivo do estudo da matemática é desenvolver a capacidade de resolver problemas. Mas adquirir esta capacidade não é trabalho para um dia nem para uma semana. Trata-se antes, de querer muito, ter paciência, persistência, observação, raciocínio, integração de conhecimentos adquiridos em experiências anteriores, saber colocar questões e ter espírito crítico.
Assim o é nas outras disciplinas também.
No entanto:
“O comportamento dos alunos desta turma torna impossível qualquer aprendizagem.
Conversam sem prestar a mínima atenção ao que o professor explica nem aos exemplos que ilustram as matérias abordadas. Não tentam executar as tarefas propostas pelo professor, continuando a conversar, e ao serem exortados a executá-las, o que é indispensável para a compreensão e aquisição dos conhecimentos e competências, limitam-se a retorquir que estão à espera que o professor faça para então passarem do quadro.
Se abrem o caderno, este é fechado no fim da aula para só voltar a ser aberto na aula seguinte e são incapazes de consultar a lição anterior para utilizarem a informação fornecida.
A conversa em surdina é generalizada e, quando se chama a atenção, acham que não é nada com eles. Alguns calam-se mas os outros continuam. É preciso gritar para acreditarem que é a eles que o professor se está a dirigir. Finalmente calam-se para pouco depois tudo voltar ao mesmo. Alguns distinguem-se, falando muito alto, dando origem à ordem de saída da sala e respectiva participação.
Verificam-se comportamentos infantis como: assobiar, atirar aviões de papel ou levantar e deixar cair a mesa, enquanto o professor está voltado para o quadro e, se não conversam, tiram discretamente os telemóveis dos bolsos, manuseando-os por baixo das mesas para enviarem mensagens. É impossível localizar quem o fez e são solidários nestes comportamentos, não permitindo a identificação dos responsáveis.”
Este é o comportamento que tenho observado, com algumas variações, em metade das turmas que me foram atribuídas nos últimos dez anos todas dos três níveis do ensino secundário, o que em termos estatísticos constitui uma amostra razoável.
Finalmente resta saber se o erro foi intencional, ou se, como espero, foi apenas um lapso ou ainda, e a experiência profissional não me permite descartar esta última hipótese, se foi uma manifestação de ignorância das realidades e relações sociais e educativas da parte de quem por inerência das suas responsabilidades devia mostrar outro grau de competência.

Luís Torgal
Professor de matemática, Setúbal