domingo, 13 de junho de 2010

O ESTADO DA EDUCAÇÃO EM PORTUGAL

Realizou-se no dia oito de Junho, no auditório José Saramago da Escola Secundária de Bocage, um debate sobre o estado da educação em Portugal.
Estiveram presentes os Professores Nuno Crato e Paulo Guinote. Por motivos alheios à sua vontade, o Professor Medina Carreira não pôde comparecer.
Na mesa, encontravam-se ainda a directora da Escola Secundária de Bocage, Maria José Miguel, e o dinamizador desta iniciativa e moderador do debate, João Paulo Maia, professor na mesma escola.
O moderador lançou como mote o facto de, na situação actual, parecer ser dada grande relevância à avaliação dos professores, em oposição à medição da aprendizagem dos alunos.
Nuno Crato considerou que a avaliação dos professores é importante, assim como a dos alunos, dos directores, das escolas e de todas as organizações. No entanto, é impossível avaliar os professores e não avaliar os alunos, para o que serão indispensáveis os exames. Não obstante, os exames quase não existem, pois para cerca de vinte disciplinas, no ensino básico, em nove anos, são efectuados apenas dois exames , que valem trinta por cento.
Estamos, por isso, a assistir a um abaixamento de nível de ano para ano e aproximamo-nos do ponto de não retorno.
Outro assunto referido foi a selecção de professores. Presentemente, muitos dos docentes mais velhos e experientes, cansados do ambiente que se vive na educação, estão a aposentar-se, o que leva à perda de referências. No processo que promove a sua substituição, o sistema não dá preferência aos candidatos mais bem preparados, pois o único critério de entrada na profissão tem em consideração a classificação, apenas, promovendo, assim, a frequência de cursos em instituições que atribuem as classificações mais elevadas . É urgente introduzir um exame de entrada na profissão que seleccione os melhores e que ponha em causa as instituições de formação de professores que mais facilitam.
Maria de Lurdes Rodrigues prometeu-o, mas não cumpriu. Isabel Alçada já está no ministério há tempo suficiente e ainda não o fez.
Seguiu-se no uso da palavra Paulo Guinote, que acerca do recente regime de excepção que, para os alunos do oitavo ano com idade superior a quinze anos que ficarem retidos, estabelece a possibilidade de efectuarem exames do nono ano de modo a poderem transitar para o décimo ano, referiu que os efeitos práticos desta medida serão quase nulos. No entanto, importa a mensagem que se transmite.
Nuno Crato acrescentou que, curiosamente, esta não é uma oportunidade que se dá aos bons alunos que eventualmente estejam em condições de saltar um ano. É uma oportunidade que se dá aos maus alunos, que, muito possivelmente, ao serem integrados numa turma do décimo, não conseguirão acompanhar as matérias leccionadas.
Paulo Guinote comentou ainda a falsa associação entre elitismo, avaliação, insucesso e exclusão usualmente usada pelos “teóricos” para criarem um sentimento de culpa nos professores.
Considerou que incluir a todo o custo, baixando o nível de preparação , redundará numa futura exclusão social. É com elitismo e exigência que se apetrecha o indivíduo para uma inclusão efectiva na sua vida adulta.
A assim designada educação para a cidadania está a revelar-se um processo falhado, já que a escolaridade de nove anos não significa a realização do nono ano, mas somente a permanência na escola durante nove anos.
Os resultados dos exames e provas de aferição têm vindo a ser mistificados através de mudanças de critérios e de exigência, pelo que os resultados alcançados ao longo do tempo não são comparáveis. Exemplificando, Paulo Guinote afirmou ter, este ano, verificado que, em cinquenta provas de aferição, metade dos alunos não soube ordenar por ordem alfabética seis palavras que começavam pela mesma letra. Aparentemente, à semelhança do que se passa com a tabuada na matemática, alguém decidiu que a memorização do alfabeto era uma sobrecarga para as pobres memórias e um anátema para a língua portuguesa.
No entanto, os defensores da progressão automática têm um discurso muito bem organizado e são especialistas em fazer com que quem defende a avaliação externa dos alunos se sinta mesquinho.
Trava-se uma autêntica guerra de desgaste, pois os professores que não aderem ao facilitismo vêem-se perante a desistência ou a aposentação.
Após as intervenções, seguiu-se um debate em que se referiu a conveniência de não confundir taxa de aprovação escolar, um instrumento administrativo, com sucesso escolar, construção real e efectiva do conhecimento, sendo necessário consciencializar e responsabilizar os encarregados de educação pelo comportamento e aproveitamento dos seus educandos.
Foi ainda referido que as ideias pedagógicas que tocam o absurdo podem não influenciar a prática pedagógica dos professores, mas que sem dúvida a desorganizam. Quanto aos relatórios P.I.S.A., muito citados pela tutela, é importante mencionar o deste ano, que mencionava que de nada serve aumentar o número de anos de escolaridade se não se melhorar a qualidade das aprendizagens.
Foi também abordado o tema dos mega agrupamentos e do gigantismo das nossas escolas, pois os países o fizeram já todos inverteram o processo, sendo a tendência actual a de escolas com cerca de meio milhar de alunos.
Tentei não atraiçoar o que se passou nesta sessão. Não sei se o consegui, mas interessa acima de tudo realçar que foi mais um momento alto em prol da educação com rigor, exigência e competência. Sem dúvida, uma demonstração de cidadania, empenho, intervenção e algum sacrifício que temos que agradecer e apoiar. Aliás, apoiar não, mas sim intervir, pois não podemos ser messiânicos e esperar que sejam os outros a travar as nossas guerras.
Assim, o nosso obrigado ao João Paulo Maia pela iniciativa, à Escola Secundária de Bocage pelo acolhimento e ao Nuno Crato e ao Paulo Guinote pela presença.

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