sexta-feira, 23 de abril de 2010

A lei da escola segundo o eduquês

Não resisto a transcrever este artigo da autoria de Guilherme Valente e publicado, se não me engano, no dia 20 de Abril de 2010 no Público.


“1. Contra o silêncio e a indiferença, é preciso dizer que as duas mortes agora acontecidas são extremos dramáticos, picos na violência que cresce em muitas escolas públicas. Mas nem estes casos extremos obrigaram o eduquês a mudar o discurso:
No caso do docente de Sintra, a DREL terá colocado psicólogos na turma em causa “ com medo de que haja um sentimento de culpa”. E não deveria haver? Não é esse o único sentimento aceitável, o mínimo que na circunstância se deve esperar? Não deve esse sentimento ser mesmo suscitado em todos aqueles jovens e nos responsáveis da escola e do ministério? Ou a escola deixou de ser, de repente, a tão badalada “comunidade educativa”?
Trata-se de jovens que são na sua generalidade bons alunos e que não podem transportar na sua vida uma situação de culpa que os pode vir a condicionar pela negativa”, disseram.
Nem mesmo a morte obriga o eduquês a pôr a mão na consciência. Ou será que estas mortes devem ser atribuídas à natureza?
2. Também Daniel Sampaio (D.S.) escreveu o inimaginável sobre o assunto (Pública do dia 14 de Março).
Apesar de conhecermos as suas ideias, lemos com perplexidade o que seguramente terá indignado a generalidade dos pais que diariamente são obrigados a deixar os filhos nas escolas públicas e dos professores que nelas resistem ao intolerável.
“Querer uma escola controlada pela polícia [quem é que alguma vez defendeu isso?] em que ninguém possa desobedecer ou contestar as regras, é acabar de vez [pasme-se!] com esse território de liberdade segura que caracteriza o nosso sistema educativo (…)”.
Mas vale a pena continuar a citar D.S.: “É que há em todas as escolas comportamentos que podem ser considerados violentos, mas que não são bullying [ cabe ao especialista, portanto, dizer se é dor a dor que eu sinto – meu Deus!]: a escola reproduz a sociedade [a escola do eduquês sim, até agrava mesmo o pior da sociedade; a boa escola que queremos, pelo contrário, enfrentaria o que na sociedade não é desejável] e esta não é serena [serena?], por isso são frequentes as piadas, as troças e até um insulto passageiro ou um empurrão, sem que isso seja muito grave.”
Passaria por humor, não fosse experiência de medo de tantos jovens, a preocupação de tantos pais, o receio de tantos professores, relatados todos os dias pela comunicação social. Gostaria de saber em que escola estudaram os filhos de D.S.
E, a seguir, D.S. prescreve a receita fácil para o caos…que também ele próprio, porventura sem se aperceber, tem ajudado a instalar.
Eu sei que o psicólogo é D.S., mas desta vez sou eu a fazer o diagnóstico: continuamos perante uma estranha dificuldade do homem inteligente que é em ver a realidade. Quanto à cura, sinceramente, gostaria de não perder a esperança de boas notícias.
3. Estes textos, chocantes, nas circunstâncias quase pornográficos, são, como outros tantos do mesmo teor, exemplos reveladores: o eduquês gosta da indisciplina, e, assim, vai encorajando a sua manifestação.
E assim vão fazendo o seu tricot teórico os mais ou menos discretos companheiros de jornada do eduquês, ajudando, voluntária ou ingenuamente, a impor à escola má que todos os dias atira para a ignorância, a desqualificação, o abandono e a exclusão gerações e gerações de crianças dos estratos sociais mais desfavorecidos, agravando assustadoramente as desigualdades, privando-as do ascensor cultural e social único que um bom ensino público – condição da sociedade civil – seria para elas.
Quem disse ser preciso mito tempo para se verificar o resultado do que se faz na educação?
Acolhidas e cultivadas na escola do eduquês, a ignorância e a violência explodem na sociedade. Mas não era isso o que o eduquês pretendia?” Editor da Gradiva

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